24
de abril de 1500, Sexta-feira
Sobre
os índios
"A feição
deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e bons narizes,
bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o menor
caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta
inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo
furado e metido nele seus ossos (...) agudos na ponta como furador.
(...) Os seus cabelos são lisos. E andavam tosquiados (...) e
rapados até por cima das orelhas (...) "
(Caminha, como os outros, ficou maravilhado com a inocência,
ingenuidade e beleza dos índios, que se mostraram bastante dóceis
desde o início).
O contato
a bordo
"Afonso Lopes, nosso piloto, estava em um daqueles navios
pequenos. (...) Tomou dois daqueles homens da terra, mancebos
e de bons corpos, que estavam em uma espécie de jangada. Já de
noite, Afonso Lopes trouxe-os ao Capitão, em cuja nau foram recebidos
com muito prazer e festa. (...) Quando eles vieram, o Capitão
estava sentado em uma cadeira, bem-vestido, com um colar de ouro
muito grande no pescoço, e tendo aos pés um grande tapete como
estrado. (...) Um deles, porém, reparou no colar do Capitão e
começou a acenar para a terra e depois para o colar, como se nos
quisessem dizer que na terra também havia ouro. (...) Nós assim
interpretávamos os seus gestos, porque assim o desejávamos (...)"
(Durante muitos anos, Portugal desprezou o Brasil por considerar
que as novas terras não tinham minérios de valor, como ouro, prata
e ferro, em seu subsolo, se contentando em pilhar o pau-brasil,
madeira valiosa na Europa. Por um bom tempo, o Brasil serviu apenas
como rota e porto seguro para as Índias. Hoje sabemos que isso
não é verdade, e que o país possui algumas das maiores reservas
minerais do mundo!)
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