Fazendo drama
-Manhê,
acho que eu peguei uma doença alienígena. Estou
com dor de dente, de cabeça, de barriga, de nariz e de
ouvido. Não vai dar para ir para a escola...
-É mesmo? Pois eu acho bom você colocar seu uniforme
rapidinho e parar de fazer drama!
-Mas mãe, fazer drama é bom para a saúde!
Existe até uma terapia chamada de psicodrama!
- ...!
E existe
mesmo! Mas não adianta tentar dar uma de espertinho, porque o tal "drama"
dessa terapia não tem nada a ver com inventar mentiras para escapar da
escola, não! Ou melhor, pensando bem, até que tem um pouquinho a
ver sim... É que o psicodrama é uma espécie de terapia
"milkshake", que mistura a psicologia e o ...teatro!
Ficou surpreso? Mas se você for dar uma espiada no dicionário, vai
descobrir que "drama" é mesmo um sinônimo de teatro! E
o teatro é a "arte da mentirinha", em que os atores "fingem"
que são outras pessoas, não é?
Os praticantes do psicodrama acham que esse tipo de terapia serve para ajudar
as pessoas que estão com problemas. "Brincando" de teatro, essas
pessoas podem aprender a lidar melhor com a própria vida. Existe
muitos "estilos" de psicodrama: ele pode ser de grupo, individual, de
casal, familiar e até infantil! Em todos eles, as pessoas contam seus problemas
para um terapeuta, e com a ajuda dele, transformam esse problema em um "drama",
ou seja, em uma cena de teatro. Uma das técnicas mais comuns
do psicodrama é a "inversão de papéis". Nela, os
pacientes "fingem" que são pessoas com quem elas brigaram, ou
estão magoadas. Afinal, se colocando na "pele" de alguém
fica bem mais fácil entender essa pessoa, não é? Mas..como
é que se chama o terapeuta que conduz uma sessão de psicodrama?
Psicodramático? Psicodramaturgo? Não; ele é o psicodramatista.
Para ser psicodramatista, não é preciso ter feito faculdade de psicologia,
não. Médicos, pedagogos, fonoaudiólgos...qualquer pessoa
que tenha terminado qualquer curso superior - ou seja, que tenha um diploma da
faculdade - pode "virar" psicodramatista...depois de fazer um curso
de psicodrama, é claro! Mas não pode ser qualquer curso, não:
no Brasil, só "valem" os cursos reconhecidos pela FEBRAP, que
é a Federação Brasileira de Psicodrama. O
primeiro "dramático"
Jacob
Levy Moreno: esse é o nome do "pai" do psicodrama. O Jacob nasceu
na Romênia, em maio de 1889, cresceu na Áustria e acabou se naturalizando
americano. Talvez por causa dessa "salada de nacionalidades", ele tenha
tido a idéia de inventar uma terapia meio misturada. O
Jacob estudou filosofia e medicina, mas a
sua paixão de verdade era o teatro.
E essa paixão era tão grande que, em 1921, ele fundou o Teatro Vienense
da Espontaneidade. A idéia dessa escola era fazer um teatro sem roteiro,
que saisse todinho da cabeça dos atores na hora da representação.
Mais espontâneo, impossível! O Teatro da Espontaneidade
foi uma espécie de "irmão mais velho" do psicodrama: é
que, durante as apresentações desse teatro, o Jacob começou
a prestar atenção em uma atriz que só gostava de representar
personagens bens doces e carinhosas. Isso não teria nada demais
se ele não tivesse tido uma "conversinha" com o marido dessa
atriz. E sabe o que marido falou? Que a tal atriz, tão boazinha no palco,
era uma supermegera em casa! Aí, o Jacob, muito esperto, resolveu dar para
a tal atriz-megera papéis mais malvados, em que ela colocava para fora
a agressividade. Resultado: a moça deixou a "mocreíce"
de lado e passou a tratar o marido com muito mais carinho! Foi aí que o
Jacob percebeu que o teatro podia funcionar com uma terapia! E, em 1924, nascia
o psicodrama.
Enquanto viveu, o Jacob
publicou muitos livros e viajou bastante mostrando o psicodrama
para o mundo. Ele tinha tanto orgulho do seu "filhote"
que fez questão de que, em sua sepultura, estivesse escrito
"Aqui jaz aquele que abriu as portas da Psiquiatria à alegria". |