30
de abril de 1500, Quinta-feira
Gente
inocente
"Parecem-me gente de tal inocência que, se nós os entendêssemos,
e eles a nós, seriam logo cristãos, porque parecem não ter nenhuma
crença. E portanto, se os degradados que aqui hão de ficar aprenderem
bem sua fala e os entenderem, não duvido que eles (...) hão de
se tornar cristãos em nossa santa fé. Portanto, Vossa Alteza,
que tanto deseja fazer crescer a santa fé católica, deve cuidar
da salvação deles . (...) Eles não lavram, nem criam. Nem há aqui
boi, vaca, cabra, ovelha, galinha, ou qualquer outro animal que
esteja acostumado a conviver com o homem. (...) Nesse dia, enquanto
ali andavam, dançaram e bailaram sempre com os nossos, de maneira
que são muito mais nossos amigos do que nós seus (...)"
(Aqui, Caminha se refere à docilidade dos índios, o que poderia
facilitar a catequização pelos missionários católicos. É interessante
notar a sinceridade do relato neste último trecho, em que Caminha
reconhece as "segundas intenções" dos portugueses diante da alegria
desinteressada dos índios)
Uma terra
rica
"Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata,
nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém a terra
em si é de muito bons ares, frios e temperados (...). As águas
são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-se
aproveitá-la, dar-se-á nela tudo por causa das águas que tem."
(Caminha não poderia imaginar o tamanho das riquezas da nova terra
descoberta. Imaginem se tivesse visto o rio Amazonas em toda a
sua imensidão... ou se soubesse que o Brasil, ainda hoje, possui
a maior extensão de terras cultiváveis do mundo!)
|