Letras disfarçadas
de números
Para ler alguma coisa escrita em um língua, a gente tem
que saber falar essa tal língua, né? Mas você
já reparou que uma coisa escrita em japonês parece
muito mais difícil de entender do que uma outra escrita
em inglês, ou francês? É que, no Japão,
as pessoas não só falam uma língua diferente
da nossa, como também usam um outro alfabeto!
- Tudo bem mas...o que isso tem a ver com matemática?
Bom, o "alfabeto" da matemática são os
números, certo? E, assim como existem vários tipos
de alfabetos, também existem vários sistemas de
numeração!
Um desses sistemas foi criado pelos romanos, um povo que foi muito
importante durante a Idade Antiga, e que construiu um império
enorme. Esse sistema foi chamado de...sistema romano!
Olhando para o sistema romano, a gente nota logo de cara que ele
tem uma coisa muito diferente do sistema de numeração
com o qual a gente está acostumado. Ou melhor, ele não
tem uma coisa: números!
Parece estranho, não? Afinal, como é que um sistema
numérico pode não ter números? Bom, é
que, na hora de escolher um jeito de representar quantidades,
os romanos resolveram usar a letras do alfabeto deles.
É isso aí, nesse sistema, cada letra "vale"
uma quantidade de números. Mas, como os números
são infinitos e as letras, não, os romanos tiveram
que rebolar para "encaixar" todas as quantidades possíveis
em algumas letrinhas. E eles conseguiram fazer a coisa tão
bem que nem precisaram usar todas as letras do alfabeto!
Nesse sistema, as únicas letras usadas são I, V,
X, L, C, D e M.
Cada uma delas tem um valor:
o I vale 1, o V vale 5, o X vale 10, o L
vale 50, o C vale 100, o D vale 500, e o M
vale mil.
Mas...parece que está
faltando número aí! E o 2, o 3, e o 4? Onde estão
o 20, o 30, o 40, o 60...? Calminha, os romanos não eram
nada bobos e deram um jeito de representar todos os números
nessas 7 letrinhas...
Os romanos faziam
XIXI?
Soma: essa é
a palavra-chave para entender o sistema de numeração
romano. Pense comigo: o que é o 2? Não é
a soma de 1 e 1? Pois então, na hora de representar o dois,
os romanos simplesmente colocavam duas vezes o número 1,
ou melhor, a letra I! Dois, em "romano", é II.
E três? É III.
- Ah, então é claro que o quatro é IIII,
certo?
Errado! Acontece que, uma das regrinhas que os romanos inventaram
foi a de que cada letra só pode ser repetida três
vezes. Por isso, em vez de IIII, o quatro romano é escrito
assim: IV. Mas porque?
É que, nesse caso, a gente usa o contrário da soma,
que é a subtração. O quatro não é
igual a cinco menos um? Pois então,o jeito que os romanos
descobriram de representar isso é colocar o um, ou melhor,
o I, antes do cinco, quer dizer, do V. Daí, o quatro
"virou" IV, ou seja, um antes do cinco, ou cinco
menos um!
E o seis? É só somar o cinco e o um: VI.
O sete é VII, o oito VIII e o nove...IX,
ou seja, "um antes do dez"! Deu para entender que esse
tal "um antes" é uma regrinha que vale sempre.
O dezenove, por exemplo, é XIX, ou seja, X+ IX,
que em bom português quer dizer 10 + 9 (ou dez mais
"um antes do dez")
Resumindo essa regra:
quando um número (ou mais de um) vem escrito à direita
de um numeral maior do que ele, você soma o valor(ou os
valores) do menor ao do maior. Se o número menor vem escrito
à esquerda de um número maior, você subtrai
o valor do menor.
Meio complicado, né?
E daqui para a frente só piora! Quanto maior o número,
mais letras entram nele. Pense em um número bem difícil.
Aposto que foi 3.739, adivinhei? É, eu sou meio
paranormal...
Pois então, em "romanês", esse número
fica assim: M + M + M (três vezes mil) + D + C
+C (quinhentos mais duas vezes cem) + X + X + IX (duas
vezes dez mais nove) = MMMDCCXXIX. Ufa!
Deu para sacar que o tal XIXI lá do título não
existe de verdade, né? Para escrever 22, que é o
que ele vale, nós fariamos assim: XXII.
O tracinho salvador e o problema da posição
Mas...se a letra de
valor mais alto que existe no sistema romano é o mil (o
M) , e se cada letra só pode ser repetida 3 vezes, então
o maior número possível nesse sistema é 3.999
( que se escreve MMMCMXCIX)! Nada disso: é aí
que entra o tracinho salvador. Os danados dos romanos inventaram
que é só colocar um tracinho em cima de um número
para multiplicá-lo por mil! Ou seja, colocando um traço
em cima do V, ele vira num passe de mágica...5.000!
Para multiplicar por um milhão, é só colocar
dois tracinhos, e assim vai. Essa parte foi simples, não?
Então, para completar a história, só falta
falar de uma outra diferença entre o sistema romano e o
sistema decimal (o que a gente usa). Preste atenção
nesse número: 173. Olhou bem? Então responda: quanto
vale o 7 nesse numeral? Setenta! Aqui, o 1 vale cem, o 7 vale
setenta e o 3 vale três mesmo. Somados, eles "viram"
173! Mas, se a gente mudar a ordem, mudam os valores: em 371,
por exemplo, o 3 não vale mais três, não.
Ele agora vale trezentos. E o 1, que antes valia 100, agora vale
só 1.
Por causa disso, esse
nosso sistema é chamado de posicional. Isso quer dizer
que a posição de um número define o quanto
ele vale.
E o sistema romano?
Esse é aposicional. No número XXI, cada X
vale 10 e o I vale I, somado 21. E se, em vez de 21, a
gente der uma espiada no XIX? Aqui, a soma dos números
é 19, mas cada X continua valendo 10, e o I
ainda vale 1. Ou seja, a posição não "mexe"
no valor de um número.
Xi, que embananação!
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